Quando me acontecerás?

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Onde andas?
Persigo-te na chuva que enfeita o ar; pesas-me no meu semblante encharcado, no casaco grosso e puído que emana naftalina, nos ombros enquanto cais em mim, cais em mim e rolas para um poço de calçada lamacenta, onde te perco, onde te somes.
E choro por tentar parar o tempo e fazer poças de ti no ar e falhar miseravelmente; e choro por sentir que a chuva que aprecio não é só minha; e choro por ouvir só o trabalhar dos meus pulmões exaustos de tanto correr e o gemer dos meus ossos que como um cão abandonado ladram solidão.
Imagino-te munida de sonhos, com uma alma de colosso que um dia me vai arrancar da asfixia real e me vai fazer real; imagino-te a inundares-me de sossego, dessa overdose que sobra de uma fantasia que se vive, desse disparate que se chama Amor; as tuas mãos a ampararem-me o voo, e os teus olhos a cavalgarem com os meus na vertigem de uma cama encharcada de suor e na placidez de um café num dia em que o céu se abre num lacrimejo de algodão. Aquele que sabe ser comigo no meio da minha loucura, do meu disparate, do meu gastar constante de ser, da minha exigência de diferença e atrevimento e no meu exagero de vida; na minha tacanhez de racionalidade e no meu sufoco social... Saber que pairas no ar que me eleva e baixa o peito e saber que enquanto sonho e durmo me vigias e me apagas todos os demónios que me lesam.
Quando me acontecerás?





Edit: Após me terem dito que mal se reparava no itálico, visto eu ter tido a intenção de com essa forma dizer que este texto e com muita pena minha não é meu. Quem me dera poder escrever tais palavras com esta força , este poder e com tal beleza. Portanto, digo que este texto não é meu mas aproveitei-o porque se encaixa perfeitamente naquilo que eu sinto e naquilo que tentava escrever num poema para alguém e como o achei lindo demais, resolvi partilhar =)

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